quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Pais multilíngues

Quando o pai e a mãe têm línguas maternas diferentes, a definição de que idiomas serão falados em casa é um fator importante na educação bilíngue dos filhos, mas pode ser um grande desafio para os pais.





Diferentes circunstâncias se aplicam a brasileiros morando fora do Brasil que estão tentando criar filhos bilíngues.  De acordo com os idiomas a que a criança está exposta na rotina familiar, podemos dividir essas famílias em três grupos principais:

1. tanto o pai quanto a mãe são brasileiros, ou falam português fluentemente, e português é a única língua falada em casa.

2. somente um dos pais fala português, enquanto que o outro fala a língua do país de residência.

3. um dos pais fala português e o outro fala um terceiro idioma, que não é o do país de residência.

Das três, a primeira situação é a mais favorável do ponto de vista do aprendizado da língua portuguesa, pois apesar da criança estar exposta a uma outra língua fora de casa, dentro de casa a imersão na língua portuguesa é total. Fora de casa, a criança vai aprender o idioma local também por imersão, geralmente sem nenhum problema.


Nas duas últimas situações descritas acima, vários cenários diferentes podem existir, dependendo dos hábitos desenvolvidos por cada família.

Essas famílias são originariamente multilíngues e em geral vão encontrar uma maneira de definir como as várias línguas serão usadas no dia a dia. No entanto, a definição do sistema linguístico familiar pode depender de fatores existentes antes do nascimento dos filhos, para os quais o casal não dá muita atenção até o momento em que percebe que um sistema alternativo seria melhor.

Por exemplo, quando um casal multilíngue se acostuma a falar entre si em determinada língua antes de ter filhos, eles podem ter grande dificuldade para mudar este costume caso decidam mais tarde que há maiores benefícios para os filhos se eles falarem entre si em outro idioma. Segundo E. Harding and P. Riley em seu livro “The Bilingual Familiy”, é extremamente difícil mudar o idioma (ou idiomas) em que nos comunicamos com alguém uma vez que o hábito é formado. O idioma usado se torna uma definição do relacionamento. Mudar o idioma é como uma negação do passado. Quanto mais profundo o relacionamento, mais difícil é mudar, e muitos casais acham essa mudança impossível. Em teoria não existe nada que impeça essa mudança, mas na prática, segundo os autores, isso simplesmente não acontece.

Também segundo Harding e Riley, essa dificuldade em mudar o idioma de um relacionamento é a razão por que qualquer tentativa de criar filhos bilíngues que envolva uma mudança do idioma usado pelos pais para se comunicar entre si está fadada ao fracasso. Por exemplo, se um casal falante de alemão e inglês que vive na Inglaterra se comunica entre si em inglês, eles não vão conseguir mudar para alemão quando tiverem filhos. Isso não que dizer que eles não possam criar filhos bilíngues, apenas que o sistema específico (todos os membros da família falando alemão em casa todo o tempo) seria o mais difícil de estabelecer. Mas outros padrões estariam disponíveis, por exemplo o falante de alemão se comunicando com os filhos apenas em alemão, o falante de inglês apenas em inglês e o casal continuando a falar inglês entre si. Harding e Riley estressam que este ponto é importantíssimo, pois a falta de adaptação do padrão de bilinguismo ao sistema linguístico já existente entre o casal é a causa principal do fracasso de tentativas de criar filhos bilíngues.

Quando conheci meu marido eu havia acabado de me mudar para a Noruega e não falava norueguês (a língua materna dele). Nossa comunicação se dava em inglês, que era a única língua que tínhamos em comum. Mais tarde aprendi a falar norueguês, mas continuamos nos comunicando em inglês, apesar de durante um período após o nascimento de nossa filha termos conscientemente tentado mudar para norueguês. Por incrível que pareça, a tentativa fracassou principalmente (embora não unicamente) porque meu marido, que é falante nativo, não conseguia usar norueguês de forma natural e espontânea em sua comunicação comigo e tinha que ser constantemente lembrado do que estávamos tentando fazer. Decidimos então intercalar as duas línguas, usando norueguês de tempos em tempos para expor nossa filha ao idioma, mas a língua natural de nosso relacionamento continua sendo inglês.

Sistema linguístico e equilíbrio no relacionamento

De acordo com um especialista em comunicação que conhecemos em um seminário há alguns anos, esse fracasso em mudar o idioma usado entre nós foi um fato positivo para o nosso relacionamento. Segundo ele, eu e meu marido estamos em uma situação de igualdade, pois ambos usamos uma segunda língua para nos comunicarmos um com o outro. Se tivéssemos conseguido mudar para norueguês meu marido estaria em vantagem, porque a comunicação se daria em sua língua materna, enquanto eu estaria usando uma língua da qual não sou falante nativa.

No seu livro “Growing up with two languages”, Anna e Staffan Andersson descrevem um casal multilíngue que organiza sua rotina linguística de forma que um usa sua língua materna e outro não. O falante nativo vai ter que se comunicar com uma pessoa que provavelmente não tem total domínio da língua que está sendo usada. Segundo os pesquisadores, o casal vai naturalmente se acostumar ao sistema e não vai mais notar sotaque ou erros gramaticais. Até um certo ponto o falante não nativo vai aprender com o falante nativo, mas para muitos casais correções linguísticas frequentes atrapalham a comunicação no dia a dia. Se o falante não nativo não tiver motivação para melhorar seu domínio do idioma, por achá-lo adequado a suas necessidades, vai provavelmente continuar no mesmo nível, salvo algumas adições ao vocabulário. Isso se chama fossilização da língua.


Eis aí mais uma questão para as famílias multilíngues refletirem.


Quando um dos pais não fala português

Continuando no tema de definição do sistema linguístico familiar de casais multilíngues, num próximo post tratarei da situação em que um dos pais não fala a língua que o outro tenta ensinar aos filhos, um dos principais problemas na educação de filhos bilíngues dentro de famílias multilíngues.


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terça-feira, 26 de outubro de 2010

Admissão em escolas públicas secundárias na Inglaterra - Um guia prático para os pais

Quando seu filho estiver no último ano da escola primária (Year 6) sua autoridade local irá lhe enviar um formulário de inscrição e informações sobre o processo de admissão em escolas secundárias. Essa informação também deve estar disponível na escola primária de seu filho. Haverá um prazo de inscrição e é muito importante observá-lo. Você precisará preencher este formulário mesmo que você esteja inscrevendo seu filho em escolas fora da sua área de autoridade local.



O formulário de inscrição lhe dará pelo menos 3 opções por ordem de preferência e sua inscrição será repassados para cada escola. Você receberá apenas uma oferta de uma vaga em uma escola. Se seu filho for aceito por mais de uma escola, a sua autoridade local irá escolher e oferecer-lhe apenas uma – a que aparecer mais acima na sua lista de preferências.
 
Decidir a ordem de preferência pode ser difícil, pois você precisa considerar os critérios de admissão de cada escola. Lembre-se, também, que apenas a sua autoridade local é obrigada por lei a oferecer uma vaga numa escola dentro da sua área. Se você não escolher nenhuma escola dentro da área de sua autoridade e suas opções fora dela forem negadas, todos os lugares nas escolas com melhor desempenho em sua área já podem ter sido preenchidos por crianças que as incluiram em suas listas.


Além desse formulário, você terá que seguir processos específicos de inscrição em cada escola em sua lista, caso elas tenham procedimentos especiais, como por exemplo exame 11-plus para ingresso em grammar schools (leia sobre grammar schools no post Educação primária e secundária na Inglaterra).

Exame 11-plus

Não existe um exame 11-plus centralizado, os testes são definidos localmente (em cada local authority ou cada escola).

A estrutura do exame 11-plus varia de município para município ou de escola para escola.  Ele pode ser aplicado pela local authority ou pela escola. Geralmente, é composto por três partes:

• Matemática.
• Inglês.
• Reasoning (verbal reasoning e non-verbal reasoning) - uma prova que avalia a capacidade de aplicar lógica para solucionar problemas simples.

Em geral as provas são de múltipla escolha.

A pontuação varia de região para região e de ano para ano. Normalmente, para passar o aluno tem que atingir entre 400 e 450 pontos de um máximo de 700. Se a pontuação ficar perto, mas ligeiramente abaixo do mínimo, o candidato pode interpor recurso.

Como exemplo, Kent Local Authority forneceu a seguinte informação sobre seu 11-plus:
“O 11-plus é feito por crianças no ano 6 da escola primária, que estarão indo para a escola secundária no mês de setembro do ano seguinte e, se passar, eles terão a opção de se inscrever para ir para uma grammar school em Kent. As crianças que não passarem no teste não poderão se inscrever para ir para uma grammar school.
   Passar no teste de Kent não garante que seu filho terá uma vaga numa grammar school, pois pode haver mais candidatos que lugares disponíveis, como em outras escolas.
   As crianças vão ser testadas em raciocínio verbal e raciocínio não verbal, matemática e escrita.
   A prova de raciocínio verbal leva 50 minutos, o não verbal 40 minutos. A de matemática e escrita uma hora cada. Todas, com exceção da de escrita, são de múltipla escolha.
   A nota de aprovação é diferente a cada ano e varia de acordo com resultados obtidos naquele ano. Se muitas crianças tiverem pontuação muito alta no teste, a nota de aprovação será maior. Se muitas crianças tiverem pontuação muito baixa, a nota de aprovação será menor.A nota de aprovação também pode ser ajustada ligeiramente de acordo com a idade da criança quando ela faz o teste, porque algumas crianças no ano 6 podem ser quase um ano mais velhas que outras.
   As inscrições para o teste de Kent fecharam à meia-noite de sexta-feira 2 de julho.
   As crianças residentes em Kent fizeram o teste nos dias 14 e 15 setembro de 2010. Crianças residentes fora de Kent fizeram o teste em 18 de setembro de 2010.
   O resultado do exame será enviado aos pais dia 18 de outubro.”

Apesar do que se diz por aí, na prática o exame 11-plus exige preparação específica, tanto com relação ao conteúdo quanto à técnica. Muitas pessoas contratam professores particulares para preparar seus filhos para o 11-plus. A preparação geralmente consiste em uma aula semanal de 1 ou 2 horas. O preço das aulas varia de 20 a 40 libras por hora, dependendo da região.

Se você quiser que seu filho faça o exame 11-plus de uma região ou escola específica, você normalmente terá que seguir um procedimento adicional ao de escolha de escola (preenchimento de lista de opções para a autoridade local). Há um processo separado de inscrição para o exame e detalhes específicos podem ser obtidos da autoridade local ou da escola que aplicará o exame. 

Recursos

Você pode ter uma longa espera até saber o resultado de sua inscrição. Se seu filho não obtiver uma vaga em uma das escolas na sua lista, a sua autoridade local irá oferecer-lhe algumas alternativas. Você também pode colocar o nome de seu filho na lista de espera de qualquer escola para a eventualidade de surgir uma vaga.


A carta da sua autoridade local irá explicar como você pode recorrer se não estiver satisfeito com a decisão. Há um prazo para o recurso, que é interposto a um painel independente, e não à escola ou autoridade local. Você terá de explicar ao painel por que acredita que a escola em questão tomou uma decisão errada não aceitando seu filho, de acordo com seus critérios de admissão. A escola vai explicar por que não ofereceu um lugar. O painel irá julgar se a decisão foi razoável.


Datas aproximadas
    Setembro/novembro: open days nas escolas/
    prazo final para inscrições/ testes de seleção
    Fevereiro/março: oferta de vagas
    Março/Agosto: oferta de vagas de listas de espera
    Maio/Junho: julgamento de recursos


Critérios de admissão

O que é fundamental na escolha de uma escola são os critérios de admissão da escola: em outras palavras, as regras que determinam o que a escola está procurando nos candidatos.

Você precisa encontrar uma escola, ou escolas, que você goste e cujos critérios de admissão se ajustem ao seu filho. Você vai encontrar os critérios de admissão no site de cada escola - é bom checá-los antes de se apaixonar pela escola!
Exemplos de critérios de admissão a escolas secundárias incluem:
- Irmão(s) já matriculados na escola
- 
Se você mora perto da escola (catchment area)
- Se você ou seu filho tem uma deficiência física ou mental
- Se sua família é da religião servida pela escola (para as escolas confessionais)
- Se seu filho frequenta uma escola primária ligada à escola
- Exame ou teste de seleção
- Entrevista (as únicas escolas públicas que estão autorizadas a entrevistar candidatos são os colégios internos)


Dicas

·        Pesquise. Escolha uma escola que seja certa para o seu filho e na qual ele realmente tenha uma chance de entrar. Não escolha uma escola especializada em música se seu filho nunca tocou um instrumento na vida. Não escolha uma escola super acadêmica se seu filho não é muito chegado aos livros.
·        Contrate um professor particular se seu filho tiver que fazer exames de admissão.  Uma hora por semana no Year 5 normalmente é suficiente.
·        Se puder, contrate um professor particular especializado em técnicas e estratégias para o exame específico que seu filho tem que fazer, nem que seja por uma ou duas sessões.
·        Fale sobre critérios de admissão, exames, etc., com pais cujos filhos entraram na escola que você escolheu. É muito importante saber exatamente que tipo de aluno a escola está procurando.


sábado, 16 de outubro de 2010

Educação primária e secundária na Inglaterra


O sistema de ensino inglês

O sistema de ensino na Inglaterra está dividido em educação primária, secundária e superior.  A escolaridade obrigatória tem a duração de 11 anos. A idade escolar oficial é entre os cinco e 16 anos.


O National Curriculum determina quatro etapas chave para a educação:

Key Stage 1: 5-7 anos

Key Stage 2: 7-11 anos

Key Stage 3: 11-14 anos

Key Stage 4: 14-16 anos (GCSE) 





Os alunos são avaliados através de exames no final de cada etapa. A avaliação do Key Stage 4 é o exame General Certificate of Secondary Education (GCSE).  O GCSE é um exame individual para cada disciplina operado por um órgao independente. Os estudantes geralmente fazem até dez exames de GCSE em diferentes disciplinas (não há limite mínimo ou máximo).

Depois dos GCSEs, os alunos que quiserem continuar seus estudos podem entrar no ensino profissional ou técnico, ou podem se preparar para prestar exames do ensino secundário denominados AS-Levels, após um ano adicional de estudo. Após dois anos de estudo, os alunos podem prestart exames a nível Advanced Level (A Level), que são necessários para entrar na universidade no Reino Unido. Alternativamente os alunos podem estudar dois anos e prestar exames do International Baccalaureate.

Escolas secundárias na Inglaterra

Na Inglaterra as crianças passam da escola primária para a secundária aos 11 anos, quando são transferidas para o 7º ano. Nesse ponto os pais geralmente podem optar entre uma variedade enorme de escolas para seus filhos.

Escolas públicas

Existem três tipos principais de escola secundária pública.

Comprehensives
São escolas não seletivas.

Academies
São escolas financiadas pelo estado mas estabelecidas e administradas por “patrocinadores”: empresas, grupos religiosos, universidades, clubes de futebol, etc. Elas são "escolas particulares financiadas com dinheiro público”. Academias podem selecionar até 10% dos alunos a cada ano, com base em aptidão acadêmica e não estão vinculadas ao Currículo Nacional. As academias geralmente são escolas que tinham maus resultados mas se transformaram por causa de orçamentos enormes.

Grammar Schools
São escolas públicas que selecionam seus alunos com base na capacidade acadêmica. Essas escolas seguem o Currículo Nacional e em geral têm um desempenho muito melhor que as comprehensives.

No último ano da escola primária candidatos fazem um exame conhecido como o 11-plus, que determina se eles entram ou não numa grammar school (leia mais sobre exame 11-plus no post Admissão em escolas públicas secundárias na Inglaterra - Um guia prático para os pais). Não existe um exame 11-plus centralizado, os testes são definidos localmente (em cada local authority ou cada escola).

Infelizmente não é qualquer criança que tem a opção de fazer um teste de seleção para uma grammar school. Tudo vai depender de onde a criança mora. Kent e’ a local authority com o maior número de grammar schools: 34. Apenas algumas escolas admitem que crianças que morem em authorities vizinhas façam seu exame 11-plus.

Nem toda escola com a palavra “Grammar” no nome e’ necessariamente uma grammar school!



Escolas particulares

Independent schools são escolas particulares que definem seus próprios critérios de admissão e não são obrigadas a seguir o Currículo Nacional. Elas são registradas com o Departamento para Crianças, Escolas e Famílias (DCSF) e monitoradas por OFSTED (Office for Standards in Education, Children’s Services and Skills). Elas são financiadas através das mensalidades que os pais pagam, bem como rendimentos de investimentos.

Muitas das melhores escolas do país são particulares, mas o fato de ser particular não garante que uma escola seja boa.

Há dois pontos principais de entrada em escolas particulares: aos 11 e aos 13 anos.

Algumas escolas particulares não são seletivas, enquanto que algumas selecionam seus alunos com base em critérios próprios, que muitas vezes não são divulgados publicamente. A maioria seleciona através de exames de admissão, os chamados Common Entrance Exams. Estes podem variar de escola para escola, e em geral são mais difíceis que o 11-plus, às vezes contendo tópicos que as crianças não cobriram na escola primária. O exame é preparado e aplicado por cada escola individualmente.  Algumas escolas têm exames próprios de seleção que são bem mais fáceis que o Common Entrance. Em certas escolas o exame de seleção é apenas uma formalidade.

Mensalidades
Todas escolas particulares cobram mensalidades, mas o valor varia muito de escola para escola. Aqui estão alguns valores típicos (por ano) para 2009.

TipoCusto
Primária£6000 a £11250
Secundária£7500 a £18000

Muitas escolas particulares oferecem bursaries e bolsas de estudo (vide http://www.isc.co.uk/ParentZone_Welcome.htm). Atualmente no Reino Unido cerca de um quarto de todos os alunos em escolas particulares tem alguma forma de assistência financeira para pagar as mensalidades.


O que são as “SCHOOL LEAGUE TABLES”?

As league tables são os resultados anuais globais dos exames de GCSE e A Level de cada escola, mostrando quantos alunos atingiram o nível exigido.

Embora essas tabelas sejam úteis, elas não são um guia definitivo, pois há muitos fatores que afetam os resultados, tais como o número de crianças cuja língua materna não é o inglês, grau de dificuldade das materias examinadas, etc.
 

Copyright © 2010 Cláudia Storvik

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Criando filhos bilíngues

Se num piscar de olhos pudéssemos transformar nossos filhos em perfeitos bilíngues, fluentes tanto em português quanto em inglês ou qualquer outra língua, quem não o faria? No entanto, a tarefa de ensinar duas línguas a um filho geralmente é bem mais complicada do que os pais imaginam.


Antes de ser mãe conheci muitas brasileiras vivendo na Europa que por convicção ou por insegurança não ensinavam português a seus filhos. Algumas diziam ter medo que a criança ficasse confusa com duas línguas, ou que não conseguisse se comunicar com o pai, ou que a criança chegasse à idade escolar sem dominar a língua do país de residência. No entanto, também conheci algumas mães que tentaram e falharam parcial ou totalmente na missão de ensinar português a seus filhos. Muitas se contentavam com o fato do filho “entender” português.

Eu considerava esses casos exemplos de desperdício de uma oportunidade importante para as crianças, pois, por falar cinco línguas, eu conhecia bem as enormes vantagens do multilinguismo.

Quando minha filha nasceu na Inglaterra, eu não tinha mais dúvida alguma de que ela seria criada em três línguas: português, inglês e norueguês, a língua de seu pai. Estava convicta de estar fazendo a coisa certa expondo minha filha desde o nascimento às línguas com as quais ela teria um contato natural ao longo da vida.

Durante a gravidez li vários livros sobre bilinguismo e todos os artigos que pude encontrar sobre trilinguismo. Após o nascimento de minha filha continuei lendo muito sobre multilinguismo e mantive correspondência com uma pesquisadora inglesa, que além de estudar trilinguismo tinha uma filha trilíngue.



Quando minha filha tinha 5 anos ajudei a fundar e por vários anos administrei (como voluntária) a Escola Brasileira de Bromley, que durante muito tempo ofereceu aulas de português para crianças do sudeste de Londres e noroeste de Kent, bem como memoráveis festas juninas, bailinhos de carnaval e outras comemorações bem brasileiras.

Hoje minha filha está com 12 anos e é totalmente fluente em inglês e português, tanto falados quanto escritos, e é muito competente em norueguês. Durante esses 12 anos aprendi algumas lições importantes tanto por experiência própria como pela observação de parentes, amigos e conhecidos que também tentam educar seus filhos para que sejam bilíngues.

Há algum tempo tenho pensado em compartilhar essa experiência com outras famílias, e assim surgiu a idéia de se criar este blog, onde vou tentar esclarecer dúvidas e passar informações úteis a mães e pais brasileiros residentes no exterior que estão tentando dar a seus filhos o maravilhoso presente do bilinguismo.

Nos artigos que aparecerão aqui vou tratar, entre outras coisas, das dúvidas frequentes sobre os efeitos fisiológicos e psicológicos do bilinguismo, de pesquisas científicas sobre multilinguismo, de estratégias para ensino de segunda língua e vou também contar as histórias de várias famílias brasileiras que como a minha tiveram sucesso na educação bilíngue de seus filhos. E, claro, vou tentar responder às perguntas enviadas pelos leitores do blog.


Copyright © 2010 Cláudia Storvik

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